Através de convênio entre a Universidade do Estado do Rio Grande do Norte (Uern), Petrobras e Fundação para o Desenvolvimento da Ciência, Tecnologia e Inovação do Estado do Rio Grande do Norte (Funcitern), foi construído o primeiro Recinto de Aclimatação e Programa de Soltura e Monitoramento de Peixes-bois Marinhos no RN. A solenidade de inauguração ocorreu na manhã da última quarta-feira, 3, no Ecoposto da Reserva de Desenvolvimento Sustentável Estadual Ponta do Tubarão, em Diogo Lopes.
Para o coordenador-geral do Projeto Cetáceos da Costa Branca-UERN, o professor da Uern e biólogo Flávio Lima, a construção do Recinto representa um grande avanço para a região. Com a estrutura, a Uern passa a ter condições de oferecer aos animais todas as etapas de reabilitação para retorno à natureza.
A estrutura permitirá oferecer aos peixes-bois em reabilitação o processo de aclimatação para a soltura em ambiente natural e contribuir com a conservação da espécie, que atualmente é uma das espécies de mamíferos aquáticos mais ameaçadas do Brasil.
A reitora da Uern, Cicília Maia, enfatizou que a construção do recinto é um importante fruto do trabalho do Projeto Cetáceos, de uma soma de esforços que está deixando um grande legado na área de preservação ambiental. “Temos orgulho de dizer que nossa Universidade é socialmente referenciada, inclusiva e includente. Aqui estamos vendo na prática como é a Uern construindo com a sociedade um ambiente melhor”, declara.
De acordo com o gerente-geral da Unidade de Negócios de Produção do Rio Grande do Norte e Ceará da Petrobras, José Harlen Albino Dantas, é satisfatório ver o desenvolvimento de um trabalho com esse impacto para o meio ambiente. “A construção do recinto é uma parte visível e concreta dessa trabalho que vem contribuindo para a preservação da fauna marinha da região”, disse, agradecendo à Uern pelo desenvolvimento dessas atividades.
O presidente da Funcitern, Frank Felisardo, frisa que o Projeto Cetáceos retrata o cuidado que temos com a biodiversidade da região. O líder comunitário que gerencia a sustentabilidade turística da Ponta do Tubarão, Luiz Ribeiro, conhecido como “Itá”, ressaltou o impacto que o projeto tem na vida da comunidade e a felicidade de estar celebrando essa importante conquista.
O Projeto Cetáceos da Costa Branca-Uern atua no monitoramento da fauna marinha de toda a Costa Branca, desde Caiçara do Norte até Icapuí, no Ceará. A equipe conta com cerca de 70 pessoas que atuam no resgate de animais vivos e mortos, na avaliação das alterações climáticas da região e no acompanhamento para devolver esses animais ao meio ambiente. “Se não fosse a Uern, esses animais estariam morrendo ou sendo levados para outras regiões”. O projeto atende em média mil animais por ano.
Recinto de Aclimatação
Instalada em uma área estuarina, a estrutura do Recinto de Aclimatação é constituída por uma passarela de acesso, uma plataforma de observação e um cercado para os animais, todos em madeira tratada e legalmente licenciada. Está localizada em um canal na Comunidade de Diogo Lopes, mediante autorizações, licenças e anuências de todos os órgãos públicos competentes, incluindo o Conselho Gestor da RDSE Ponta do Tubarão.
Flávio Lima explica que o peixe-boi marinho é uma das espécies de mamíferos aquáticos com maior risco de extinção no Brasil. “A região da Costa Branca no Rio Grande do Norte é um dos principais locais de encalhes de filhotes da espécie, provavelmente devido às alterações naturais dos ambientes costeiros e marinhos e às atividades humanas na área”, informa.
É comum os animais encalharem com poucos dias de vida, entre 02 a 05 dias de nascidos,
sendo necessários cuidados e tratamento especializado. Para isso, os animais são resgatados e encaminhados para o Centro de Reabilitação de Fauna do Projeto Cetáceos, na cidade de Areia Branca.
Neste Centro, os animais são acompanhados por uma equipe técnica multidisciplinar e submetidos à lactação artificial por aproximadamente 02 anos à base de proteína isolada de soja e suplementos vitamínicos, minerais e aminoácidos essenciais, além de itens naturais, como capim agulha e algas marinhas. Atualmente encontram-se em processo de reabilitação 16 peixes-bois marinhos no Centro de Reabilitação, que representa cerca de 10% da população destes animais no Estado.
Antes de serem soltos, os peixes-bois marinhos precisam passar por um período de aclimatação às condições naturais, se adaptando aos movimentos e oscilações das marés e correntes marinhas e temperatura das águas, por exemplo. “A área apresenta características naturais fundamentais para os animais no período de aclimatação e soltura, além de possuir grande envolvimento”, informa Flávio Lima.
Os animais são acompanhados e avaliados quanto ao seu estado de saúde, sendo realizados exames veterinários periódicos. Após o período de lactação artificial e finalizado o processo de desmame, os animais estarão aptos para ser transferidos para um Recinto de Aclimatação instalado em ambiente natural, visando posterior soltura à natureza. A aclimatação pode durar de 06 meses a um ano, a depender do comportamento dos animais e adaptação de cada um. Depois disso, o animal poderá ser solto à natureza, sendo monitorado através de equipamento de radio-telemetria e por equipe especializada.
A soltura e monitoramento desses animais na natureza no RN é uma ação prevista no Plano de Ação Nacional para Conservação do Peixe-boi-marinho – PAN Peixe-boi-marinho, coordenado pelo Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), por meio do Centro Nacional de Pesquisa e Conservação de Mamíferos Aquáticos (CMA).