UERN E SPBC DISCUTEM QUESTÕES AMBIENTAIS

Edilson Damasceno
Da Agecom/UERN

 

Ambientalistas do mundo inteiro focalizam atenções para o aquecimento global, que se apresenta de maneira crítica em alguns países, provocando destruição e morte. Um sítio virtual de notícias chegou a afirmar que não havia mais tempo para o homem salvar a Terra, tal o grau de danos causados à natureza. O fato é que, para o professor Luiz Fernando Schettino, doutor em Ciência Florestal da Universidade Federal de Espírito Santo, tal afirmação não pode ser levada ao pé da letra. Ele pensa diferente e crê ser possível salvar o planeta. “A maior parte do planeta ainda não está degradada. Há uma possibilidade de revertermos”, afirma.

A discussão do assunto faz parte da programação do 16º Encontro de Pesquisa e Extensão da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte (ENCOPE/UERN), que este ano tem sua realização como parte integrante da 62ª Reunião Regional da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC). O tema central do Encope é “Água e desenvolvimento do Semiárido”.

Tendo como base esse parâmetro ambiental e sustentável, a 16ª edição do Encope mudou o formato. Em vez de grupos temáticos, o evento consta de quatro pavilhões que tratam do meio ambiente, questão agrária e saúde; cultura e comunicação; educação, cidadania e gestão, e ciência, tecnologia e produção. A professora doutora Suzaneide Ferreira da Silva, pró-reitora-adjunta de Extensão e membro da coordenação executiva do Encontro, disse que não houve quebra de conhecimentos. 715 trabalhos foram selecionados para exposição este ano.

“O Encope teve mudanças e não tem mais aquela quebra de conhecimentos. Reúne saberes e conhecimento, pois todos os participantes podem interagir com os diversos saberes”, informa, acrescentando que a temática escolhida para o evento está relacionada à questões ambientais, e também pelo fato de o assunto estar sendo pesquisado por professores da UERN e da Universidade Federal Rural do Semiárido (UFERSA).

 

Ação conjunta – Para o reitor da UERN, professor Milton Marques de Medeiros, a realização do Encope conjuntamente com a reunião da SBPC é um enriquecimento. “O Encope vem se realizando ano a ano e agora com a presença da regional da SBPC. Há mais motivação, mais clima. São as duas Universidades públicas de Mossoró unidas em um mesmo trabalho. Entendo que todos ganham com isso, as IES, a comunidade científica e a própria representação da SPBC, através do seu presidente Marco Antônio.”

Com relação à temática – “Água e o desenvolvimento do semiárido” – o reitor vê como um debate oportuno. Ele frisa que durante anos se pensou que o desafio da região do Semiárido fosse a água. “Água é desafio em todo o mundo. Esse momento, no qual todos param para fazer uma reflexão, se identifica que a grande questão é a convivência. Temos singularidades e é preciso que as pessoas que aqui residem tenham consciência de conviver com elas. O homem pode fazer previsões e conviver com essa situação.”

O reitor analisa que, pelo fato de haver trabalhos relacionados à questão ambiental – tanto na UERN quanto na UFERSA, a realização da reunião da SPBC na área é um sinal de que as pesquisas produzidas por aqui possam ter reflexos nacionalmente. “É um grande sinal. Pela primeira vez na história em que há uma reunião regional em Mossoró. Significa dizer que estamos despertando interesse para o estudo do assunto. É oportuna a presença da SPBC entre nós”, afirma.

O vice-reitor da UERN, professor doutor Aécio Cândido de Souza diz que, independente do tema que o Encope ou a SBPC estivesse discutindo, o evento é importante, pois coloca a ciência como vitrine. “É um evento de popularização da ciência, e precisamos muito disso no Brasil”, diz, acrescentando que o contato com o saber científico é recente e que os órgãos de apoio à pesquisa têm em torno de 60 anos. “Esses eventos, espaços criados são importantes para que a juventude tenha contato com a ciência, porque essa juventude está exposta a muitas outras coisas e muito pouco com a ciência”, diz.

O fato, contudo, de se discutir o semiárido, para ele, representa uma importância maior. “Vivemos em um tipo de ambiente e muitas vezes não nos damos conta da singularidade desse ambiente”, analisa, comentando que o homem é educado e que a aprendizagem se faz com textos produzidos em outras regiões e pouco tem contato com a realidade local.

Em um evento que reúne pesquisa e pesquisadores, o vice-reitor frisa que ao chamar estudantes para participar dos debates, a ação se mostra importante para que os estudantes universitários e a comunidade possam ter acesso ás discussões.

 

 Entrevista/Luiz Fernando Schettino

 

‘PRECISAMOS PASSAR A OLHAR OS RECURSOS HÍDRICOS DE MANEIRA DIFERENTE’

 

Qual o papel do homem na questão ambiental?

É tudo. Deus criou o mundo, estabeleceu o mundo, criou regras e a natureza funciona com leis perfeitas, obviamente dinâmicas. Nós, seres humanos, em busca do nosso conforto, em busca – muitas vezes – da ambição, de um modo de vida que nem sempre é fraterno, nos leva a utilizar de forma inadequada a natureza. Este é o nosso grande desafio: fazer com que o ser humano entenda que é parte da natureza e que precisa respeitar as leis que a natureza possui.

 

Material jornalístico veiculado em um sítio virtual de notícias disse que não há mais como o homem salvar o planeta. O senhor concorda com essa afirmação?

Não. Penso diferente e acho que ainda há condições. A maior parte do planeta ainda não está degradada. Há muita possibilidade de revertermos. Agora temos que aumentar a velocidade das ações. Uso uma expressão que, às vezes, é difícil de ser entendida: temos que afetar interesse, de fazer com que os interesses sejam os coletivos e das gerações atuais e futuras, e não de um dado momento econômico apenas para um grupo de pessoas.

 

Com relação ao Protocolo de Kyoto, até que ponto essa questão pode ser incrementada e seguida pelos países?

O Protocolo de Kyoto foi fundamental para se iniciar no mundo uma nova cultura, que é pensar no CO2, do Carbono, do metano, pensar que a produção tem que ser feita de forma limpa e muitos passos foram dados. Existem países, como a Alemanha, que superaram as metas. É necessário que as pessoas conheçam as tecnologias, que isso seja difundido e sejam estabelecida pelos governantes a vontade política de seguir as regras e serem obedecidas.

 

No caso do Brasil, como o senhor ver a questão das políticas públicas voltadas para o meio ambiente?

As políticas públicas avançaram muito, apesar de que nós gostaríamos que fossem bem melhor. Precisamos de uma forma muito firme, estabelecer essa meta que o Governo levou para Copenhague, de redução do desmatamento da Amazônia, que é o nosso calcanhar de Aquiles. Colocaria nisso mais algumas questões importantes: a questão hídrica. Precisamos passar a olhar os recursos hídricos de maneira diferente. Em segundo, o solo: precisamos pensar muito no nosso solo, pois estamos degradando e assoreando. E, em terceiro, e um item pouco entendido no Brasil: estamos poluindo o nosso litoral, o nosso mar, que é uma fonte de alimento,de riqueza inesgotável. Penso que, se nós reduzirmos o desmatamento, cuidarmos da água, cuidarmos do solo e do mar, obviamente sem esquecer a poluição do ar, acho que dentro de 20 a 30 anos poderemos ter um país crescendo mais, gerando emprego, gerando renda e respeitando a natureza.