PROFESSOR DAVID LEITE LANÇA LIVRO EM NATAL

“Incerto Caminhar” é a estréia poética do advogado, professor e escritor David de Medeiros Leite. A obra, premiada no II Concurso de Poesia em Língua Portuguesa da Universidade de Salamanca, já foi lançada em Mossoró e em Natal, dia 8, com noite de autógrafos na livraria Siciliano do Midway Mall.

David de Medeiros é mossoroense e, atualmente, exerce o cargo de chefe de gabinete da reitoria da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte (UERN). O autor já publicou os seguintes livros: Companheiro Góis – Dez Anos de Saudades, Coleção Mossoroense, 2001; Os Carmelitas em Mossoró, Coleção Mossoroense, 2002 (Em co-autoria com Gildson Souza Bezerra e José Lima Dias Junior); Ombudsman Mossoroense, Sebo Vermelho, 2003; Duarte Filho: Exemplo de Dignidade na Vida e na Política, Sarau das Letras, 2005 (Em co-autoria com Lupércio Luiz de Azevedo).

Em 2008, teve sua obra poética Incerto Caminhar premiada no II Concurso de Poesia em Língua Portuguesa, promovido pela USAL – Unversidade de Salamanca – e Escola Oficial de Idiomas de Salamanca, Espanha. Em 2009, foi vencedor da terceira edição do mesmo concurso, com o poema intitulado “Púrpuras Tardes”. É membro do ICOP – Instituto Cultural do Oeste Potiguar, e do IHG-RN – Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Norte.

Para saber mais sobre o “Incerto Caminhar” do professor David Leite leia abaixo o prefácio assinado pelo também professor da UERN e poeta R. Leontino Filho.

Prefácio

“Incerto Caminhar”, estréia poética de David de Medeiros Leite, vem sob a forma aguda da peregrinação. Em primeiro plano, o movimento do olhar movido pela intensa novidade dos seres e das coisas – o gesto de fecundar mundos ungido pela boniteza. Num segundo instante, o jogo de encobrimentos e descobrimentos das virtualidades que os caminhos repartem, em pormenor, ao poeta aturdido pelo frescor do encantamento. E, um pouco mais adiante, as modulações do ser entesourado no seu comboio de imagens: o caminhar da viagem no incerto viajar do caminho.
 
Os passos poéticos de David de Medeiros Leite, despojados de quaisquer hermetismos, irradiam, do princípio ao fim, a pisada errática do peregrino. Sem pejo, tão arredia e afeita à gulodice da linguagem, a poesia libera seus bilhetes de lírica viagem e dissemina intimismo nos confins do sentimento, artéria afortunada da simplicidade. O livro de David de Medeiros Leite é a concentração do sentir em consangüínea razão do dizer. A poesia espeta a pura sensação do dito quando disciplina a dicção da realidade: a vidência da viagem na latinidade do caminhar.
 
Quantas estações compõem a rota deste Incerto Caminhar? Cinco paradas designam toda a travessia: a primeira delas, o “Ementário climatológico”, a segunda, “Alfarrábios”, em seguida os “Apontamentos” e as “Celebrações”, o ciclo completa-se com “Lugares e caminhos”; tudo isso atravessado pelas vias estreitas dos trinta e três sinais poéticos, distribuídos em blocos de versos que variam de quatro a dez textos. O rumo do viajante enfrenta chuva, abeirando-se das cores de Salamanca; entre cinza e branco, lança-se na rota do sol que abrasa a pele da saudade.
 
Por vezes, o poeta derrapa num certo patriotismo, coisas de primeiro sentimento, sinestesia, quem sabe, de um exacerbado amor à pátria, nada, no entanto, que comprometa os passos do autor em direção ao alpendre delicioso de uma conversa de estábulo no cotidiano paradoxo do existir. Noutra direção, mas na mesma pegada, a toponímia como anteparo para o tudo passa, esse jeito manhoso de amalgamar o panfleto das coisas comezinhas e se chegar à passagem requintada da Feira do Gavião, uma das ramas preciosas do caminho; tal qual a festa da padroeira, que, entre tantas celebrações, colhe, em reverência ao poeta Luiz Campos, novo pedido de Natal. No acostamento da estrada, a emancipação, o moderno carnaval, o baile de máscaras e o clássico balé, em segurança, o sopro de um sonho conquistado. Nas margens da viagem poética, a floração do viajar em litúrgica travessia.
 
Certo poeta, fundamental em todas as latitudes, deixou dito que “poesia é linguagem afetiva”, caminho para a harmonia vocabular e para o refinamento expressivo, onde o contorno sensorial é permeado pela inteligência multiplicada nos meandros da sabedoria, espécie de encantamento orgânico da linguagem; o poeta João Cabral de Melo Neto, cultor da mais sábia poética, acertou em cheio em seu afeto pela poesia.
 
Tocado por suas palavras, é imperioso retomar os lugares e caminhos de David Leite, pois “A estrada é esta vontade de chegar…/E é o passo que transforma a todo instante /a vida num incerto caminhar”; com o poema que intitula o livro, o autor reforça seu caminho com cenas cariocas, explora a trilogia composta de homens, sementes e passarinhos, aportando num seco porto onde as intempéries ensejam outras sabedorias presentes no poema “Os homens e os animais”, intertexto revelador entre David de Medeiros Leite, o monsenhor Huberto Bruenning e o vate José Ribamar Alves; bem próximo da chegada, quiçá começo da viagem, uma singela canção em forma de oração, puro afeto para os moradores da região Carmo-Barrinha-Melancias, desdobramento de caminhos palmilhados, estrada estirada de boa: “– O que você leva consigo?/ – Algumas auroras, poucos ocasos e raros acenos.” Já em Mossoró, nova saída para o acostamento, o exceder do afeto, felizmente repensado e dado sob medida em “Mulheres do Rio do Fogo”.
 
“Incerto Caminhar”, na moldura da viagem, cumpre seu destino: alumiar as vivências do peregrino em cadenciado grau de afeto. Os versos livres, alguns metrificados; o ritmo marcado, bem batido, com uma ou outra imprecisão, reverte em favor do próprio viajante; a musicalidade em tom de recolhimento evoca a longevidade de sentir o mundo; a versatilidade dos temas da poesia, sem nenhum ranço, talhada no vocabulário isento de pedantismos e numa sintaxe popular, embala o “Incerto Caminhar” em lacônico desejo: o fluir da vida no começo de tudo vale sempre mais como o pulsar de toda viagem. Lá de suas Galáxias, Haroldo de Campos sapecou: “quando se vive sob a espécie da viagem o que importa não é a viagem mas o começo da”, assuntando o livro de David de Medeiros Leite, pode-se afirmar que “Incerto Caminhar” é travessia ao revés da perambulante memória, uma mirada de boas-vindas para a nascente poesia. Bem-vindo, pois, a viagem está só no começo, ainda bem.

R. Leontino Filho
Professor, poeta e ensaísta