Na UERN, a ciência é livre das barreiras de gênero

Há quem não creia em coincidências, então talvez seja obra do destino que, pouco antes de março, mês da mulher, um grupo liderado por duas cientistas, uma de mais idade, outra negra, tenha desvendado o genoma do coronavírus numa universidade pública brasileira.

Num aparte às crendices, eis a estatística: no ensino superior brasileiro, elas já são maioria – 57% do total, segundo dados de 2012 do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (INEP).

Na edição mais recente do Programa Internacional de Avaliação de Alunos (PISA), prova trienal que avalia estudantes de 15 anos, as participantes brasileiras superaram seus colegas masculinos em ciência pela primeira vez desde 2006, quando a área começou a ser avaliada.

Dados recentes da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte (UERN) apontam que localmente as cientistas também fazem bonito – metade das pesquisas da Instituição é coordenada por mulheres, conforme números do Departamento de Pesquisa da Pró-Reitoria de Pesquisa e Pós-Graduação (PROPEG). Não à toa.

A Universidade tem promovido e estimulado a igualdade de gênero. Em março de 2019, por exemplo, uma mesa-redonda debateu o tema “Mulheres na Matemática”, na qual a igualdade de gênero era o foco.

Professora do Departamento de Matemática e Estatística, Aylla Gabriela Paiva de Araújo participou do evento, que avaliou como excelente. Segunda ela, “a UERN dá oportunidade aos pesquisadores sem distinção de gênero. Isso contribuí para que as mulheres se dediquem as suas pesquisas sem discriminação”.

“A gente vê as mulheres assumindo seu próprio protagonismo, empoderando-se na área em que quer atuar”, avaliou a vice-reitora da UERN, Fátima Raquel Rosado Morais. Para ela, “a UERN é vanguardista. Desde a sua fundação, assumindo esteiras em várias pautas sociais que têm transformado a vida das pessoas do Rio Grande do Norte e de outros estados que nos circundam”.

Chefe de Gabinete da UERN, Cicília Raquel Maia Leite crê na inspiração pelo exemplo, no sentido de que a presença de mulheres na ciência mostre que a ciência é um espaço para todas as pessoas independentemente de seu gênero. “A cada dia conseguimos empoderar e inspirar através do nosso exemplo outras tantas mulheres. Assim, avalio que ser docente, mulher e pesquisadora a nossa missão é ainda maior, pois, vai além de repassar conteúdos, fazer simulações, experimentos e pesquisas”, disse.

Fátima Raquel e Cicília Raquel, além das funções administrativas exercidas no âmbito da Universidade, são também pesquisadoras. A primeira é doutora em Psicologia Social pela Universidade Federal do RN (UFRN). E a segunda, possui pós-doutorado no Massachusetts Institute of Technology (MIT).

Incentivo à pesquisa ainda logo no início da graduação faz a diferença

Na UERN, o incentivo à pesquisa começa nos primeiros semestres da graduação. Para as cientistas, esse tipo de medida tem feito a diferença.

“Minha relação com a pesquisa desenvolvida na UERN vem sendo firmada desde minha iniciação científica, como também no mestrado e doutorado onde sempre estive em colaboração com pesquisadores da instituição”, relatou Maria das Graças Dias da Silva, professora do curso de Física e pesquisadora na área de Física da Matéria Condensada na linha específica de Magnetismo Teórico. A docente atualmente coordena e colabora com projetos institucionalizados para estimular novos estudos na sua área.

Professora do curso de Química, Anne Gabriela Dias Santos Caldeira conta que “a UERN foi quem me despertou a vontade de fazer pesquisa e quem fez com que eu me apaixonasse por isso”. Gabriela trabalha com nanomateriais, desenvolvimento de catalisadores para aplicações ambientais, relacionado à produção de bioquerosene e biocombustíveis. Ela também integra o grupo “Fanáticos da Química”, que cria peças de teatro para divulgar o conhecimento científico de forma lúdica e criativa para os jovens.

Para a vice-reitora Fátima Raquel, a UERN é uma instituição “acolhedora, que não diferencia homens e mulheres, mas que trabalha com a competência das pessoas”. Ela completa: “Isso faz com que as mulheres sejam vistas como pessoas capazes de produzir conhecimento e de fazer a diferença na transformação da sociedade”.