A produção de ciência, tecnologia e inovação é uma característica forte da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte (UERN). Na última semana, foi realizada a VIII Semana de Ciência, Tecnologia e Inovação da Instituição cujo objetivo é divulgar as ações de ensino, pesquisa e extensão desenvolvidas pela comunidade acadêmica.
O evento, já consolidado no calendário da instituição, apresentou inúmeras atividades no intuito de popularizar a ciência e apresentar as pesquisas e as ações de tecnologia e inovação desenvolvidas por alunos e professores.
Promovido pelas Pró-reitorias de Pesquisa e Pós-Graduação (PROPEG), de Ensino de Graduação (PROEG) e de Extensão (PROEX), e agregando quatro eventos simultâneos: XVI Salão de Iniciação Científica (XVI SIC); IX Salão de Iniciação Científica do Ensino Médio (IX SIC EM); IX Encontro de Pós-Graduação; VII Encontro de Inovação e Empreendedorismo, o evento foi realizado inteiramente de forma remota entre os dias 16 e 20 de novembro.
A Semana de Ciência, Tecnologia e Inovação SCTI UERN já representa um dos principais movimentos científico, tecnológico e cultural dentro do Rio Grande do Norte, considera o professor Dr. José Rodolfo Lopes de Paiva Cavalcanti, Pró-reitor de Pesquisa e Pós-Graduação.
“Os quantitativos de trabalhos apresentados aumentam a cada ano e isso representa que a Instituição está garantindo mais oportunidades aos estudantes e, por conseguinte, à sociedade ganha um apanhado de conhecimentos de grande aplicabilidade nas resoluções dos seus problemas. Nesse sentido, reforço aqui uma das mais importantes lógicas da produção do conhecimento científico que é capacidade dos pesquisadores vislumbrarem/compreenderem os mais diversos problemas da sociedade e converterem isso em conhecimento capaz de transformá-la”, avaliou o Pró-reitor.
Entre os diversos projetos apresentados no evento, um chama bastante atenção. Trata-se do desenvolvimento e implementação de técnicas e ferramentas de visão computacional e navegação inercial que auxiliem pessoas com necessidades especiais visuais a se locomover em ambientes distintos de forma segura, através da identificação de obstáculos, auto localização e direção por alertas sonoros.
“Pretende-se utilizar os instrumentos sensoriais dos smartphones (acelerômetros, giroscópios e GPS), principalmente as câmeras, para a implementação de um sistema de condução inteligente fundamentado em informações sensoriais visuais, fazendo com que pessoas com restrições visuais sejam auxiliadas na exploração de ambientes internos e externos”, explicou o professor Dr. Anderson Abner de Santana Souza, do Departamento de Ciência da Computação do Campus de Natal.
Além dos smartphones, outros dispositivos deverão ser testados, como o Microsoft Kinect. Algoritmos de visão computacional, fusão sensorial, reconhecimento visual de objetos, Deep Learning, mapeamento visual de ambientes, e VSLAM, geralmente utilizados em sistemas de navegação de veículos autônomos, deverão ser estudados, adaptados e avaliados para o desenvolvimento completo do sistema de condução inteligente.
Com esse sistema pretende-se fornecer aos portadores de necessidades especiais visuais uma ferramenta que lhes dê uma descrição dos espaços vazios e espaços ocupados do ambiente no qual eles se encontram, uma espécie de sistema visual artificial. “Um mapeamento panorâmico do ambiente deverá ser estimado pelo sistema sensorial e descrito sonoramente ao usuário, auxiliando-o na sua locomoção segura”, acrescentou o professor.
Analisar a reincidência da gravidez na adolescência na região Oeste do Rio Grande do Norte foi o objetivo de um projeto desenvolvido da Faculdade de Ciências da Saúde (FACS). Foram entrevistadas 40 gestantes multíparas (mulher que teve mais de um filho) residentes em Mossoró.
A literatura aponta como causas da reincidência o nível de escolaridade, o desconhecimento sobre educação sexual, iniciação sexual precoce, histórico familiar de gestações recorrentes, relacionamentos afetivos e condições de trabalho.
“Chegamos à conclusão de que a região do Oeste potiguar apresenta uma alta frequência de partos recorrentes em adolescentes, o que nos instiga a repensar sobre a eficácia das medidas assistenciais e de educação sexual que estão sendo aplicadas nesse grupo. É nesse contexto que o estudo pode gerar impacto significativo, já que o conhecimento da situação epidemiológica da região e do perfil das adolescentes em situação de vulnerabilidade serve como alicerce para ações visando interromper esse ciclo. Além disso, pode inspirar outros pesquisadores a estudarem a temática nas localidades em que estão inseridos”, explicou Hávila Dominique, aluna do 7º período de Medicina.
No Departamento de Ciências Biológicas, um estudo está investigando os gliptodontes, parentes dos tatus que conhecemos hoje. A diferença é que os animais já extintos podiam chegar a três metros de comprimento e pesar mais de 700 quilos.
“Esses animais estão entre os representantes mais comuns da megafauna, grupo de grandes mamíferos extintos que viveu aqui no Brasil entre 100 mil e 10mil anos atrás, aproximadamente”, explicou o professor Dr. Kleberson de Oliveira Porpino.
Em parceria com colegas do Brasil e do exterior, o estudo têm contribuído para revelar as relações de parentesco e aspectos da evolução desses animais, além de algumas doenças que os acometiam, incluindo casos de parasitismo por pulga e doenças articulares. “Desvendar a evolução e biologia de animais extintos nos ajuda a compreender melhor a história da vida em nosso planeta”, completou Kleberson.
O banditismo rural, um tipo de crime muito comum nas províncias do Norte do Brasil, é o tema central de um projeto de pesquisa coordenado pelo professor Dr. Francisco Linhares Fonteles Neto.
A fase mais famosa do banditismo, segunda metade do século XIX, é considerada o período mais clássico, em que aconteceu de forma endêmica, geralmente em momentos de crise, agudizados por brigas de famílias, disputas políticas ou pelas secas. Esse cenário foi propício para romantizar determinados bandoleiros, com suas ações monumentalizadas nas canções dos menestréis que ecoaram pelos sertões, na literatura naturalista, no folclore e na historiografia.
O bandoleiro Jesuíno Alves de Melo Calado, mais conhecido como Jesuíno Brilhante, com atuação nas províncias do Rio Grande do Norte, Ceará e Paraíba, era tido como o “bom bandido”. No trabalho, o intuito é fugir de uma visão cristalizada que o coloca nessa condição e revelar um outro Jesuíno pouco conhecido, mas muito mais humano.
Autores como Ariano Suassuna, Gilberto Freyre e Luiz de Câmara Cascudo, entre outros, são fontes de uma pesquisa sobre literatura popular no Nordeste coordenada pela professora Me. Beatriz Pazini Ferreira, do Departamento de Letras Vernáculas, do Campus Avançado de Patú.
A região nordestina, as influências, as interferências e os diálogos que serviram para a construção da identidade cultural, além da literatura de cordel, espetáculos de rua, teatro popular, poesia oral, entre outros, são abordados no trabalho.
No Departamento de Gestão Ambiental, a professora Dra. Gabriela Cemírames de Sousa Gurgel atua na coordenação de um projeto sobre o Espaço de Comercialização Solidária Xique-Xique, que foi criado pelo Grupo de Mulheres Decididas a Vencer, na comunidade de Mulunguzinho, zona rural de Mossoró.
Atualmente, a estrutura da rede é composta por cerca de 60 Empreendimentos Econômicos Solidários (EES) urbanos e rurais, sendo grupos auto-organizados de mulheres e também alguns mistos, formais e informais, unidades familiares e supra-familiares, associações e cooperativas de produção e comercialização, em 15 municípios, com 400 associados e mobilizando indiretamente mais de três mil pessoas em diversas regiões potiguares.