Uern cria Programa Auxílio-Creche

Quando Laura nasceu há dois anos, Cida teve que trancar um período no curso de Administração para se dedicar inteiramente à maternidade. Prestes a concluir Gestão Ambiental, Andreza sente as mesmas dificuldades, levando Tarsila, de dois anos, para a universidade ou sendo obrigada a perder aula por não ter com quem deixar a filha. Conciliar os cuidados maternos e estudar é uma tarefa difícil ou até impossível para muitas mães universitárias.

Uma cena que é bastante comum – crianças dividindo a atenção das mães com os professores em sala de aula – tem tudo pra ficar mais difícil de se encontrar na Universidade do Estado do Rio Grande do Norte – Uern em breve. Cerca de 15% dos estudantes são pais ou mães e muitos levam as crianças para as atividades acadêmicas.

O Conselho Diretor da Fundação Universidade do Estado do Rio Grande do Norte – Fuern aprovou, por unanimidade, em reunião no último dia 20, a criação do Programa Auxílio-Creche.

O programa, proposto pela Pró-Reitoria de Assuntos Estudantis – Prae, irá beneficiar estudantes regularmente matriculados nos cursos de graduação que tenham filhos de zero a cinco anos. As discentes receberão auxílio financeiro para uso exclusivo com despesas com creche, pré-escola ou cuidador, assegurando a igualdade de condições no exercício das atividades acadêmicas. Terão prioridade estudantes em condição de vulnerabilidade social.

A expectativa é de que o valor mensal seja de R$ 300,00. O número de vagas e as condições para ter acesso ao benefício ainda serão definidos.

As despesas decorrentes da aplicação do Programa Auxílio-Creche correrão à conta das dotações orçamentárias da Fuern com recursos do Fundo Estadual de Combate à Pobreza – Fecop.

Para Andreza Maria, na Uern desde 2015 como aluna e com participação no Diretório Central dos Estudantes – DCE enquanto coordenadora de mulheres, nos últimos dias nada a emocionou tanto quanto a notícia da aprovação do auxílio.

“Em 2018 fui mãe e sei bem o que é conciliar estudos e maternidade. Confesso que é quase impossível. Quem me acompanhou me viu sempre levando a minha filha para as aulas. O rendimento não é bom, mas não tinha outra alternativa. Ou levava ou tinha que desistir por não ter onde deixar, nem recursos financeiros para pagar uma creche. Posso te garantir que esse auxílio vai mudar por completo a vida das mães universitárias”, destaca Andreza Maria, que é de Pendências, estuda no Campus Central, reside em Mossoró com o esposo – que trabalha o dia todo – e não tem parentes que possam ficar com Tarsila.

A pequena Laura divide a atenção da mãe Cida com os estudos

A pequena Laura fica com o pai, a tia ou a avó para que Cida Lopes possa ir à aula. “Quem tiver disponível no momento”, brinca a aluna do 4º período de Administração do Campus Avançado de Pau dos Ferros. Por trancar um período, acabou tendo que ingressar em outra turma.

Caso seja aprovada na futura seleção – o edital com todas as regras deve sair no início do próximo ano a partir do lançamento do orçamento do Governo do Estado do RN – Cida pretende utilizar os recursos contratando os serviços de um(a) cuidador(a).

“O auxílio-creche é de extrema importância para as mães universitárias. É como uma luz no fim do túnel. Assim como eu, muitas delas necessitam ausentar-se por um período de tempo durante o dia para estudar. Em algumas vezes, não sabemos com quem deixar os nossos bebês, se ficará com a avó, pai, tia, eis a questão. Nesse aspecto, vejo a solução no auxílio-creche. Surge como uma dose de motivação e tranquilidade. Sair de casa confiante e na certeza que tudo estará bem não tem preço”, avalia Cida Lopes.

POLÍTICA AFIRMATIVA

A criação do auxílio já estava prevista na Carta Programa lançada pela chapa do professor Dr. Pedro Fernandes, candidato a Reitor e da professora Dra. Fátima Raquel Morais, candidata a Vice-Reitora na última eleição, em 2017.

A Prae, quando ainda era Diretoria de Assistência Estudantil – DAE já defendia a criação de um auxílio como esse para combater a evasão.

“A perspectiva é de apoiar as mães e os pais para que consigam minimamente conciliar a necessidade de estar em sala de aula com o cuidado familiar. É garantir a permanência na nossa universidade aos que precisam estar entre o cuidado e a educação”, comentou pró-reitora adjunta de assuntos estudantis, Séphora Nogueira.

A reunião do Conselho Diretor foi presidida pela professora Fátima Raquel, presidente em exercício da Fuern. Ela destacou a importância da instituição do Auxílio, um marco na história da Uern.

“Somos uma Universidade diferente. Temos um grupo cada vez maior de pessoas em condições de vulnerabilidade social, mas que tem todo o esforço e a vontade de continuar estudando para transformar a sua vida. A Uern, como universidade inclusiva, que pauta as suas ações nesse acolhimento e nesse entendimento de que é a educação que transforma a sociedade. A gente tem buscado em todas as esferas unir esforços na perspectiva de garantir, além do acesso desses alunos ao Ensino Superior, sua permanência”, afirmou a presidente.

Durante a reunião, a conselheira Cicília Maia chamou a atenção dos demais membros para a importância do programa como política afirmativa voltada principalmente para as mulheres.

“Essa pauta muito beneficiará as estudantes mulheres e meninas, que muito lutam para buscar seu espaço de fala e produtividade. Sabemos que não é fácil e que essa rede de solidariedade está cada vez mais escassa”, argumentou a conselheira Cicília Maia, que também é chefe de Gabinete da Reitoria da Uern.