Mariana Filgueira foi pega de surpresa quando soube que estava grávida aos 18 anos. O medo comum às meninas que são obrigadas a assumir uma responsabilidade que elas ainda não estão preparadas para enfrentar foi ruindo com o tempo e contou com o apoio do Projeto Mãe Primavera realizado nos ambulatórios da Faculdade de Medicina da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte (FACS/UERN).
Ela afirma que encontra no ambulatório da FACS um atendimento acima do esperado até mesmo nas clínicas particulares. “Acho muito importante esse trabalho, até porque a gente não encontra um atendimento dessa qualidade nem no particular. Melhor ainda porque dá acesso a todos”, comemorou.
Não é para menos. O Projeto “Mãe Primavera” oferece numa mesma manhã atendimento médico, nutricionista, e assistência social. A jovem mãe começa sendo atendida pelo médico, passa pela nutricionista e se tiver algum problema ainda contará com o apoio de uma assistente social. “A gente trabalha muito na perspectiva do direito. Temos muita preocupação com relação aos estudos orientando que elas podem fazer os estudos em casa”, explica Fadja Sinara, residente em Serviço Social.
O serviço social prestado pelo “Mãe Primavera” tem um papel relevante. “Nós vamos às residências prestar orientações às famílias. A gravidez na adolescência é uma questão social. Fazemos as intervenções, principalmente nas famílias que rejeitam as meninas. Também lidamos com os pais estimulando que os companheiros acompanhem as consultas”, relatou Fadja Sinara.
A professora Isabele Cantídio, preceptora do ambulatório, explica que o Projeto foi implantado há três anos. “Essa ideia surgiu quando percebemos que a abordagem das adolescentes era diferenciada. É um serviço único para as adolescentes que enfrentam uma série de problemas provocada por uma gravidez que, na maioria das vezes, é indesejada. Além disso há suscetibilidade para o uso de drogas, afastamento do convívio da família e da escola. Sem contar a possibilidade de diabetes prematura e pressão alta”, alertou.
São entre 40 e 50 atendimentos diários no ambulatório que serve de preparação para os alunos do curso de Medicina e da Residência Multiprofissional, que reúne profissionais já graduados que estão se especializando.
A equipe multiprofissional reúne enfermeiros, médicos, assistentes sociais e nutricionistas. “É uma experiência muito enriquecedora. Cada equipe técnica fica em um posto de saúde e, uma vez por semana, a gente vem para cá atender as adolescentes que estão grávidas. É uma gravidez de risco porque são muito jovens”, diz Tainah Cabral, nutricionista residente do ambulatório da UERN.
Ela explica ainda que as jovens ainda recebem uma orientação mensal sobre alimentação. “A gente também desenvolve o Projeto ‘Mundo das Cores’ em que escolhemos uma cor e olha quais os alimentos da cor escolhida que estão na safra. Aproveitamos para apresentar algumas receitas”, declarou.
Narcísio explica porque as pacientes se surpreendem com a qualidade do serviço lembrando que nem nas clínicas particulares encontram um serviço com tanta diversidade de profissionais. “Não é fácil oferecer um serviço com tantos profissionais e uma equipe multidisciplinar. A paciente numa mesma manhã vem para o atendimento médico e já sai para a nutricionista e, se precisar, ainda conta com o serviço social. Sem contar que numa parceria com a UnP (Universidade Potiguar) contamos com fisioterapeutas”, declarou.
O Projeto também serve de preparação para os médicos residentes em ginecologia e obstetrícia como Narcísio Bessa. “É um trabalho único e prazeroso de se fazer porque além do aprendizado a Universidade dá um retorno à sociedade. A adolescência é cheia de incertezas e fazemos esse trabalho para tranquilizar”, frisou.
O trabalho também serve para preparar os médicos que a UERN entrega ao mercado de trabalho, como é o caso de Emídio Germano do 10° período de Medicina. “Eu vejo que nós lidamos com uma situação limítrofe porque a gravidez na adolescência é de alto risco e esse momento serve para ganhar confiança”, declarou.
Estão integrados ao “Mãe Primavera”, a Residência Médica em Ginecologia e Obstetrícia, Residência Médica em Medicina de Família e Comunidade, Residência Multiprofissional, que inclui nutricionistas e assistentes sociais, e Programa de Atenção e Assistência em Saúde do Semiárido Potiguar (PAESP). Sem contar a Prefeitura de Mossoró, que é parceira nas residências.