O Rio Grande do Norte é referência no setor mineral do Brasil. O estado é o quarto maior produtor de recursos minerais do país. São cerca de duas mil jazidas com mais de 30 substâncias minerais no território potiguar, segundo diagnóstico realizado pelos técnicos do Companhia de Pesquisa de Recursos Minerais (CPRM). A produção no setor representa 20% do Produto Interno Bruto (PIB) do Estado, gerando emprego e renda, principalmente na região do semiárido.
Todo esse potencial chamou a atenção de pesquisadores da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte (UERN), que objetivam estudar técnicas e procedimentos para um melhor aproveitamento desta riqueza natural em benefício da região. Uma das pesquisas em andamento avalia o uso de minerais do Estado para produzir material de aplicação tecnológico.
A pesquisa em questão é desenvolvida pelo estudante de Mestrado em Física, João Neto, orientado pelo professor João Maria Soares. Para o estudo, o pesquisador utiliza os minérios Ferro e Bário, que são facilmente encontrados na região Central do Rio Grande do Norte, e a celestita, que fornece o estrôncio.
De acordo com o pesquisador, a partir da utilização dos minérios encontrados em território potiguar, é possível obter a ferrita através de um processo mais simplificado e com qualidade superior a do mercado.
As ferritas são materiais estáveis termicamente e quimicamente, de baixo custo e de fácil processamento, e apresentam boas propriedades magnéticas, baixa perda dielétrica e elevada resistividade elétrica. O material possui um vasto campo de aplicação, podendo ser utilizado na fabricação de dispositivos eletrônicos de rádio de frequência, núcleos de transformadores, eletroímãs eletrônicos, telecomunicações, além de poderem ser utilizados como absorvedores de radiação eletromagnética.
João Neto explica que o processo de purificação dos minerais é produzido em dimensões atômicas, nos valores de 1 a 2 nanômetros, uma unidade de medida que corresponde a um milionésimo de milímetro. Todo o processo e técnica feitos ao longo do estudo são desenvolvidas nos laboratórios próprios da UERN.
“Não é utilizado nenhum agente químico para a melhora das qualidades dos minerais usados na pesquisa”, informa João Neto. Ele destaca que a técnica desenvolvida pela pesquisa simplifica o processo de obtenção da ferrita. “O processo pode ser produzido para outros tipos de aplicação”, frisa. João Neto informa que o material produzidos a partir de minerais do RN é feito em pó, podendo ser moldado em qualquer forma.
Devido ao teor inovador, a pesquisa tem um registro de patente. A ideia é possibilitar uma comercialização futura da técnica inovadora. “A técnica possibilita fabricar os materiais com qualidade superior da comercializada no mercado. E com material do estado e a tecnologia daqui”, finaliza.
UERN tem 26 pesquisas com registro de patentes
Desde 2012, a UERN vem investindo e incentivando os pesquisadores a vinculares seus estudos que possam resultar em inovações tecnológicas ao pedido de patente. Naquele ano, um pedido de patente foi registrado pelo Departamento de Inovação e Empreendedorismo (DIE) da Pró-reitoria de Pesquisa e Pós-graduação (PROPEG). Desde então, o número de pesquisas com pedidos de patentes cresceu significativamente. Hoje, a Universidade possui 26 registros de patentes.
O diretor do DIE, Frank Felisardo, informa que a maior parte das pesquisas com pedido de patente tem pesquisadores da UERN como autores. “Em apenas três registos, a UERN está como co-autora”, revela Felisardo.
Ele destaca que, nos últimos anos, houve a preocupação da Universidade de despertar nos pesquisadores a percepção da importância do projeto dele estar vinculado ao pedido de patente. “Além de gerar um potencial comercial, o registro de patente proporciona ao pesquisador a segurança que sua ideia não seja plagiada”, diz.
A proposta é incentivar mais pesquisas inovadoras que possam resultar em pedidos de patentes. A ideia é chegar a 50 registros de patentes em andamento até 2020. Felisardo destaca que não é apenas uma nova tecnologia que poder ter direito a uma patente. A patente também vale para melhorias no uso ou fabricação de objetos de uso prático, uma nova técnica, uma música, uma arte/cultural, entre outras inovações intelectuais.
Frank Felisardo explica que a partir do momento em que o pesquisador entra com o pedido de patente, a UERN arca com todos os custos junto ao longo do processo. “Os custos do depósito do pedido junto ao Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI), a anuidade, todas as taxas”, elenda. A Universidade se responsabiliza ainda pelo acompanhamento da demanda junto ao pesquisador e o INPI.
Três projetos com registros de patente estão em fase de negociação
O diretor do DIE, Frank Felisardo, esclarece que o processo de liberação da patente para uso comercial demora, em média 10 anos. Todavia, em meio a esse período, é possível fazer a transmissão da tecnologia, que permite a comercialização e transformar a ideia em negócio, ao mesmo tempo em que o processo vai acontecendo.
Atualmente, a UERN está em processo de negociação com empresas para a comercialização de três patentes. O intuito transformar os potenciais em negócio em lucro efetivo para o pesquisador e a Universidade até 2018.
Devido a restrições impostas pela lei das patentes, Felisardo declara que não é possível divulgar o teor das pesquisas, cujas inovações têm grande potencial de negócio, mas adianta que são nas áreas de fruticultura e construção civil.
Ele destaca que a Universidade está empenhada em despertar no pesquisador a consciência de que o conhecimento produzido na academia pode conter um teor inovador e os estudiosos podem patentear suas ideias e utilizar sua pesquisa para futura comercialização, podendo assim gerar recursos para o pesquisador e a UERN.