Há quase um ano médicos formados na Uern atuam na pandemia

Há praticamente um ano, as vidas de 28 alunos do curso de Medicina da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte (UERN) mudou completamente. A solenidade de Colação de Grau antecipada, em 8 de abril de 2020, possibilitou aos novos profissionais atuarem diretamente no mercado de trabalho somando forças no combate ao novo coronavírus (Covid-10).

Iniciar uma jornada profissional em meio a uma pandemia se tornou ainda mais desafiante para os recém-formados, especialmente para Juliana Gomes da Silva, Heider Irinaldo Ferreira e Eliabe Menezes que, assim como outros colegas, então atuando na linha de frente.

Ajudar a curar as pessoas e redobrar os cuidados para não adoecer é a rotina dos trabalhadores de uma área de risco como a da saúde.

Heider teve Covid em junho do ano passado e apresentou sintomas leves.  Imunizado recentemente com as duas doses da vacina, o médico não relaxa quando o assunto é prevenção.

“Apesar de estar lidando com paciente grave, com paciente com alto grau de transmissibilidade, a gente se protege e toma as medidas mais corretas para não contrair de novo, até porque a vacina ajuda a não evoluir para formas graves – você não está isento de ter Covid novamente”, alertou o profissional que trabalha no pronto socorro e na UTI geral e UTI Covid do Hospital Wilson Rosado, em Mossoró.

Para Eliabe, é como se todo dia enfrentasse na UPA do Belo Horizonte e no Hospital São Luiz, ambos em Mossoró, uma batalha no contexto de uma grande guerra, com dias bons, conseguindo manejar pacientes com sucesso, e dias ruins tendo que dar a trágica notícia aos familiares que acabaram de perder um ente querido.

Eliabe Menezes ressalta que a formatura antecipada contribuiu para reforçar as equipes médicas

“É um misto de sensações e sentimentos que vão além do âmbito profissional e chega ao pessoal à medida que temos preocupações em relação ao contato com nossa própria família para evitar um possível contágio, haja vista a rotina em um ambiente hospitalar”, revelou.

Além de Fortaleza, sua cidade natal, Juliana trabalha em dois municípios próximos à capital cearense como plantonista de urgência e emergência. “É desafiador e exige muita coragem, empatia pela vida dos que estão enfermos e cuidados redobrados para que a gente não adoeça e contamine nossa família”, disse.

Tendo em vista o contexto preocupante e o colapso no sistema de saúde Brasil afora, é quase unanimidade o desejo pelo fim da pandemia e a volta dos dias normais.

“Meu maior desejo é que essa pandemia tenha um fim e que todos possam voltar às suas vidas normais. Enquanto isso não ocorre, espero poder contribuir da melhor forma para a sociedade com o meu trabalho”, comenta Eliabe.

Vacinação em massa é o desejo da médica Juliana. “E, acima de tudo, que sejam mobilizados mais insumos para que a gente possa prestar um serviço médico de qualidade para resgatar mais vidas diante desse vírus desafiador”, completou.

O estresse físico e mental dos profissionais é intenso. “Quando você trata paciente com covid é totalmente diferente que tratar outros tipos de pacientes. A sociedade está precisando de nós, está precisando dos médicos e dos profissionais de saúde em geral, mas tem uma hora que você esgota”, desabafou Heider.

Todos os três médicos acreditam ter uma missão a ser cumprida através da profissão que escolheram exercer.

Heider Irinaldo Ferreira exibe com orgulho o frasco da vacina que tomou contra a Covid-19

“Quando você se forma profissional de saúde, você se dá uma missão, que é cuidar das pessoas, cuidar da saúde pública. Então, é uma missão que você mesmo adquire, ninguém lhe dá. Você adquire, você escolheu, então, você tem que fazer jus ao que você se propôs a fazer quando entrou no primeiro dia na faculdade de uma carreira de saúde”, destacou Heider, que já trabalhava como médico veterinário.

Eliabe acredita que cada um tem sua missão aqui na Terra, de modo que todos podem contribuir de alguma forma para tornar o mundo um lugar melhor de se viver.

“Por enquanto, estou dando minha parcela de ajuda, sendo mais um dos milhares de profissionais de saúde na luta contra um vírus, ainda não totalmente conhecido, mas que estamos enfrentando com garra e coragem”, ressaltou.

Juliana compactua com a opinião dos colegas. “Amo meu trabalho e não me arrependi da minha escolha e sei que ainda existe um longo caminho para que eu me torne uma profissional mais completa. Sigo na luta sempre”, enfatizou.

Reforço

Juliana Gomes deseja vacinação em massa para que essa crise sanitária chegue ao fim

A antecipação da Colação de Grau foi amparada pela Medida Provisória Nº 934, de 1º de abril de 2020, que autorizou as instituições de ensino superior a abreviar a duração do curso de Medicina, entre outros, desde que os estudantes tivessem cumprido 75% do internato ou estágio curricular obrigatório. A antecipação teve também por base o Decreto Estadual de 8 de abril de 2020, que autorizou a antecipação da colação de grau dos estudantes.

“A formatura antecipada foi uma coisa fundamental, até hoje ainda faltam profissionais de saúde. E quando teve a formatura que, de vinte e oito profissionais que formaram, uns vinte ficaram aqui na região. Isso foi importante demais, foi fundamental como está sendo agora com essa última turma que formou também”, avaliou Heider.

Juliana compartilha da mesma opinião e cita que os “recém-formados mergulharam de cabeça e no escuro na tentativa de ajudar a salvar vidas”.

Do mesmo modo, Eliabe reforça que a maioria dos colegas de turma “está engajada atuando nos hospitais que atendem Covid-19, tanto em serviços de enfermarias, como em UTI’s”.