Em um contexto de crise, no qual a população participa ativamente de discussões sobre o papel do poder público na economia e sobre os possíveis caminhos para uma recuperação,as universidades se apresentam como um dos principais atores na identificação e no planejamento de ações que tenham um impacto positivo sobre a população.
Nesta quinta-feira (26), diversos aspectos ligados à economia de cidades potiguares foram abordados em estudos apresentados no XIII Salão de Iniciação Científica, que compõe a programação da V Semana de Ciência, Tecnologia e Inovação da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte (UERN).
Entre as questões analisadas pelos expositores, esteve a distribuição de royalties de petróleo e gás em municípios do Rio Grande do Norte, os quais vêm registrando perdas expressivas nas receitas obtidas através da produção dos insumos.
Em cidades como Mossoró, Alto do Rodrigues e Macau, as receitas ligadas aos royalties sofreram uma redução acentuada entre 2014 e 2016, acompanhando as quedas registradas na produção de petróleo, no preço do insumo e na realização de investimentos ligados ao setor.
“Um dos problemas é que os municípios muitas vezes ficam dependentes desses recursos”, destaca a estudante Daiane Kelly de Queiroz, do nono perído do curso de Ciências Econômicas do campus de Pau dos Ferros.
Conforme Daiane, a diminuição dos repasses tem provocado entraves que variam desde os impactos às contas públicas à perda de postos de trabalhos.
A estudante ressalta a necessidade de uma maior reflexão a respeito da destinação dada aos royalties, por parte das gestões municipais. “Como esses são recursos que vão se exaurir, o ideal é que eles sejam usados em investimentos de longo prazo”, frisa a estudante, que cita ações nas áreas de infraestrutura e de serviços básicos como possíveis usos dos recursos.
Ações no Alto Oeste Potiguar
O investimento mais expressivo em setores como infraestrutura e saúde também é apontado pelo estudante Jackson Monteiro como uma necessidade em municípios potiguares. Também aluno do curso de Ciências Econômicas em Pau dos Ferros, Jackson apresentou no Salão de Iniciação Científica o trabalho que desenvolveu a respeito da formação econômica e da urbanização do Alto Oeste Potiguar.
Segundo o estudante, a região passou por um processo acelerado de desenvolvimento e urbanização na última década, sobretudo por conta da criação de instituições de ensino superior.
Esse processo, indica o aluno, dinamizou a economia e possibilitou a instalação de diversos empreendimentos, mas a infraestrutura ainda deficiente em setores como a saúde faz com que grande parte dos novos habitantes – sobretudo funcionários públicos – deixe a região nos fins de semana, o que freia o crescimento econômico.
Jackson aponta ainda a carência de políticas voltadas à convivência com a seca como um dos principais entraves na região.
O problema se torna ainda mais grave na zona rural, onde pequenos produtores têm enfrentado dificuldade para conseguir contratar crédito em bancos públicos. “Isso tem um impacto forte principalmente num período desses, de estiagem”, salienta o estudante Kedson Brasil, do curso de Geografia em Pau dos Ferros, que apresentou o trabalho “Políticas Públicas e Fragmentação do MDA (Ministério do Desenvolvimento Agrário): Uma análise sobre o Alto Oeste Potiguar”.
Bons resultados
O pró-reitor de Pesquisa e Pós-Graduação da UERN, Dr. Rodolfo Lopes, avalia a V Semana de Ciência, Tecnologia e Inovação de forma otimista e já planeja as ações para o próximo ano.
“Já estamos pensando como alinhar todas as sugestões que recebemos para mobilizar o evento do próximo ano. Temos a perspectiva de realizar o Dia C da Ciência bem maior do que foi realizado esse ano. Já pensamos, inclusive, em levar o conhecimento cientifico às ruas do centro da cidade e às escolas. Queremos trazer as escolas para nossos laboratórios. A ciência que não se traduz em práticas deixa de criar mecanismos para transformar a sociedade”, destaca o pró-reitor.
Ao longo do evento, que iniciou na última segunda-feira (23) e se estende até esta sexta (27), cerca de 330 trabalhos foram apresentados, em ações que incluíram exposições, colóquios e palestras.
De acordo com o professor José Elesbão de Almeida, que compõe a comissão organizadora do evento, os trabalhos realizados pelos graduandos têm se destacado sobretudo pela originalidade de temas. “São pesquisas que podem se tornar objeto de pós-graduação”, ressalta, acrescentando que a Semana traz aos alunos a possibilidade de entrar em contato com professores e outros discentes que possuem trabalhos relacionados. “Isso fortalece a cultura da pós-graduação”, ilustra.