Todas as pessoas foram afetadas de uma maneira ou de outra pela pandemia a qual ainda estamos enfrentando. Para diminuir os danos psicológicos comuns a alunos, professores e técnicos administrativos, a Universidade do Estado do Rio Grande do Norte (UERN) está oferecendo há mais de um ano atendimentos psicossociais para a comunidade acadêmica do Campus Central e dos campi avançados.
Além de contribuir para o processo de assimilação do problema atual e global, o apoio da Pró-Reitoria de Gestão de Pessoas (PROGEP) e Pró-Reitoria de Assuntos Estudantis (PRAE) tem sido fundamental para orientar os públicos a respeito das atividades remotas, implantadas na Instituição desde as primeiras semanas de isolamento social, ainda em março de 2020.
O ensinar e o aprender através das telas, a falta de contato físico, de troca de olhares, de interações em sala de aula e nos corredores, o trabalho remoto e o uso mais constante das tecnologias e sua “frieza” são a nova realidade de milhares de estudantes, docentes e técnicos.
Antes da pandemia a Progep realizava os atendimentos de forma agendada e presencialmente. As demandas mais frequentes eram transtornos de ansiedade e depressão.
“Com a pandemia houve outras demandas. A dos servidores, em geral, foi a adaptação do mundo do trabalho e a conciliação com a vida pessoal, e a dos docentes, em relação ao novo contexto em dar aulas remotas e, para alguns, a falta de habilidades em relação às novas tecnologias de ensino”, explicou Bianca Valente de Medeiros, psicóloga organizacional da Progep.
O serviço de atendimento psicossocial conta com psicóloga e assistente social, com intervenção setorial (pra quando acontecem conflitos de relacionamentos interpessoais nos setores) e reuniões em equipe (departamentos ou unidades acadêmicas demandam atendimentos sobre cuidados com o corpo e a mente, o processo do luto, assédio, adoecimento mental etc).
A pandemia trouxe o distanciamento físico e as pessoas ficaram isoladas, causando quadros de adoecimento mental. Novas turmas ingressaram e os colegas de sala de aula nunca se viram pessoalmente e mal sabem o nome um do outro. São muitas novidades e desafios para que o processo de ensino aprendizado não fique tão prejudicado.
Na visão de Bianca Valente, a pandemia também desconstruiu a imagem que tínhamos sobre adoecimento mental e até sobre a própria condição do luto e da morte.
“Então, esses momentos de acolhimento e escuta possibilitaram que pequenas intervenções e encaminhamentos dessem um alívio do sofrimento psíquico dos nossos servidores e de seus familiares. Nesse período também foram assistidos pelo Setor de Assistência ao Servidor os familiares dos nossos servidores e os funcionários terceirizados”, completou a psicóloga.
Entre os estudantes, as queixas são diversas, porém a Prae verificou que as crises de ansiedade generalizada, atrapalhando no rendimento acadêmico e nas rotinas de estudo prevalecem, levando os estudantes procurarem pelo apoio e o suporte da equipe multiprofissional.
“Medo, insegurança e ansiedade são temas constantes levantados em sala de aula e nas avaliações. Realizar uma escuta qualificada, com uma abordagem sensível para essa realidade vivenciada, é fundamental para o apoio e a permanência do estudante na sala de aula. O trabalho da equipe da Prae vem possibilitando aos estudantes o suporte e a orientação necessários para o enfrentamento e ressignificação de sentimentos presentes neste momento de pandemia, seja nos atendimentos individuais, nos encontros de sala de aula ou nos diversos eventos que realizamos nesse período”, abordou Lenna Indyara, chefe do Setor de Assistência Estudantil da Prae.
Assistente social, psicólogas e psicopedagoga realizam, com os alunos, ações de prevenção e promoção de saúde, atendimentos individuais com equipe multiprofissional, desenvolvem estratégias de intervenção, além de orientar e apoiar professores e técnicos administrativos, por meio de uma abordagem multiprofissional, para promoção da qualidade de vida dos estudantes, potencializando e ressignificando os processos de ensino e aprendizagem.
Com a progressiva volta às atividades presenciais, é hora mais uma vez de se adaptar.
“Estávamos trabalhando normalmente quando, de forma abrupta, tivemos que nos adaptar a uma nova condição de vida e de trabalho, então tivemos que nos adaptar a um novo normal. E muitas pessoas se adaptaram a isto passando a conciliar sua vida pessoal e profissional ao trabalho remoto. Então, agora teremos que desconstruir e reconstruir para voltar ao contexto anterior, apesar de sabermos que a pandemia trouxe muito aprendizado para todos nós”, avaliou a psicóloga Bianca Valente.
Lenna Indyara disse que entre os estudantes a expectativa em torno do retorno do presencial está dividida entre empolgação e receio.
“Avaliamos os dois contextos. Ao mesmo tempo que encontramos a expectativa alta com relação a volta das aulas presenciais, o receio desse processo de adaptação e a adoção de medidas de segurança deixam muita ansiedade e angustia nos estudantes”, completou.
Nos campi avançados
A diretora do Campus Avançado de Patu, professora Dra. Claudia Maria Felício Ferreira Tomé, já ouviu relatos de alunos, nesse contexto pandêmico, sem ambiente adequado para assistir às aulas, tendo dificuldades para administrar tempo e espaço, desenvolvendo problemas de ansiedade, estresse, entre outros agravantes que prejudicam a saúde mental, o rendimento acadêmico e a própria vida pessoal.
“A pandemia nos colocou diante de um novo paradoxo: qualidade de vida fora e dentro de casa. Se antes o fora de casa implicava num processo de perigo à saúde mental, pela pouca vivência com seus pares, com seus familiares, o distanciamento também atingiu essa qualidade de vida por estar com os seus, na sua casa, ser alterado por um lugar, um espaço, um contexto e o modo de vida diferente que se tinha até então no interior da sua casa. Esse paradoxo que invadiu e atinge a vida das pessoas de forma bastante significativa em relação à sua qualidade de vida precisa de atenção, de atendimento, de amparo, de um olhar mais cuidadoso, para que tenhamos pessoas produzindo, sendo gente de uma maneira saudável”, abordou.
O apoio psicossocial oferecido pela Prae e pela Propeg aos servidores e estudantes tem se configurado como de suma importância, na concepção da professora Dra. Marlucia Barros Lopes Cabral, diretora do Campus Avançado de Assú.
“Notadamente nesses tempos pandêmicos que mudou de forma abrupta o cotidiano atingiu a todos e vitimou outros tantos, temos visto crescer a necessidade desse apoio, de modo que destacamos a relevância da descentralização do Campus Central e a constituição de quadro de profissionais qualificados para os outros Campi”, comentou.