Com auxílio dos poderes públicos e uma maior profissionalização de sua divulgação e estrutura, a Festa de Santa Luzia pode se transformar num evento propício ao turismo religioso em Mossoró.
“O efeito econômico da festa ainda é pequeno, com apenas 12% do público vindo de fora. Por isso, ainda não se pode configurá-la como turismo religioso”, aponta o professor Leovegildo Cavalcanti, diretor da Faculdade de Ciências Econômicas da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte (FACEM/UERN).
Cavalcanti coordenou, juntamente com o professor Sérgio Luiz, do curso de Ciências Contábeis, e com a professora Maria Elza, de Economia, todos da UERN, um relatório denominado “Pesquisa Socioeconômica da Festa de Santa Luzia – 2019”.
Realizado por 16 alunos, o trabalho obteve dados do evento quando de sua mais recente realização, em 2019, e envolveu cinco cursos da UERN: Economia, Contabilidade, Turismo, Administração e Gestão Ambiental. Ao todo, mais de mil pessoas foram entrevistadas.
A partir dos dados, o estudo concluiu que a Festa de Santa Luzia é um evento religioso importantíssimo que apresenta grande fluxo de devotos e possui atrativo turístico no contexto local. Porém, como pontos negativos, verificou-se uma “baixa capacidade de atração do público externo”, ou seja, de fora de Mossoró ou do RN, além de “baixo consumo comercial”.
De acordo com os dados obtidos, dos 1.080 entrevistados, 946 moram em Mossoró e apenas 134 vieram de outras localidades, como Ceará, Paraíba e Pernambuco. Desse público, cerca de 30% afirmaram que sua estimativa de gastos estava na faixa de até R$ 249,00, enquanto a grande maioria, cerca de 70%, não estava disposta a gastar ou não sabia se iria gastar. Os devotos pensam na festa como um evento para se ter “poucas despesas”.
“Não temos elementos suficientes para afirmar se o distanciamento com o comércio ou baixo consumo se dá por opção, escassez ou falta de diversidade de oferta. Todavia, a análise sugere que a oferta disponibilizada ao frequentador da festa não é satisfatória para atrair o interesse do devoto”, diz o texto.
O professor Cavalcanti sugere algumas medidas simples de melhoria, como um maior empenho publicitário nos estados vizinhos, que talvez contribuísse com o maior desenvolvimento da festa. “É preciso fazer um plano de negócios para que se movimente mais a cadeia produtiva”, avaliou o especialista.
“Para nós, é fundamental a relação com a Universidade”, diz padre Flávio
O estudo foi entregue na última segunda-feira, 3, ao padre Flávio Augusto, representante da Diocese de Mossoró. Na oportunidade, o professor Leovegildo Cavalcanti e dois alunos, Keliane Melo e Carlos Antônio, integrantes da equipe de pesquisa, fizeram uma exposição oral dos resultados. Tudo isso ocorreu na Sala dos Conselhos, na Reitoria da UERN.
“Para nós, é fundamental essa relação com a Universidade”, declarou o padre. O religioso salientou que os números apresentados expõem dados de cunho objetivo, “e não apenas a opinião da Igreja”. Disse ainda que, na verdade, os grupos responsáveis pela organização da Festa de Santa Luzia pedem aos poderes públicos “o básico”, como segurança ao Governo do Estado.
Quando dessa apresentação, o reitor Pedro Fernandes destacou que o papel da Universidade é justamente “fazer a diferença”, exercendo seu papel social para além de sua própria sede. Isso porque a UERN tem contribuído, a partir de seus pesquisadores, para embasar o desenvolvimento econômico local em todos os âmbitos, seja na cadeia produtiva, seja – como foi o caso – com estudos sobre o Turismo. Pesquisa semelhante, por exemplo, foi realizada para o evento “Mossoró Cidade Junina”.
“Não adianta ficar dentro de laboratórios ou estudando, escrevendo os melhores artigos do mundo, sem desempenhar esse papel”, disse o reitor. Ou seja, investir na formação intelectual sem que isso se traduza em oportunidades de transformação social, em desenvolvimento para a região onde a Universidade se situa.
O padre Flávio finalizou dizendo que, no caso do estudo sobre a Festa de Santa Luzia, traz-se novas perspectivas para o evento, que deve ser “repensado já a partir de agora”. Ele completou: “A pesquisa atingiu seu objetivo”.